Por: René Petersen, Gestora de Portfolio na Nordea Asset Management
É agora ou nunca para a Europa! Chegámos a um ponto em que a Europa tem de reinventar a sua identidade num mundo novo em que esta por sua conta. A Europa tem que decidir se assume a responsabilidade pelo seu futuro ou se deixaque outros decidam por si. É absolutamente crucial que a Alemanha utilize a sua significativa margem orçamental para se rearmar e melhorar as infraestruturas. Se isso acontecer, estou bastante otimista quanto às oportunidades de retorno na Europa nos próximos anos.
A oportunidade de uma nova e forte Europa contrasta fortemente com a forma como tem sido vista nos últimos 15 anos. Durante este período, apertámos o cinto para salvar o setor bancário e o euro, cuja viabilidade também foi posta em causa no início da última década. Após a crise financeira, o setor bancário teve de aumentar a sua base de capital e reduzir a concessão de crédito. Ao mesmo tempo, externalizámos grande parte dos empregos industriais europeus para a China, o que acabou por enfraquecer o apoio ao nosso próprio sistema político. Mas, agora, parece que os políticos europeus começam a perceber qual o rumo que a Europa deve seguir – uma nova direção que exigirá novos investimentos.
Este novo caminho passa por reduzir a dependência dos EUA em matéria de defesa, garantir o fornecimento energético de forma independente da Rússia e dos EUA, e diminuir a dependência da China na cadeia de valor industrial. Por exemplo, é essencial desenvolver infraestruturas próprias para a produção de semicondutores e, de forma mais abrangente, trazer de volta a produção industrial para solo europeu – não sob a forma de trabalho manual como anteriormente, mas através de produção automatizada, que, por sua vez, cria muitos empregos.
Foram precisos 20 anos para desmantelar a nossa própria cadeia de valor industrial, com base no argumento do baixo custo da mão de obra. No entanto, em primeiro lugar essa mão de obra barata já não existe e, em segundo, não podemos correr o risco de ficar sem bens essenciais ou de ver a sociedade paralisada porque um navio porta-contentores encalha no Canal do Suez. Reconstituir a cadeia de valor e tornar a Europa mais autónoma levará grande parte de uma geração – mas é a única opção viável. E se começarmos a quebrar este ciclo negativo, acredito verdadeiramente no futuro da Europa – e no potencial de retorno para os investidores.
Esta transformação deve também envolver os chamados objetivos de inclusão social, que fazem parte das mais de 170 recomendações apresentadas pelo antigo primeiro-ministro italiano e ex-presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, no seu recente relatório sobre o reforço da competitividade da Europa. O crescimento baseado apenas na valorização das ações e do mercado imobiliário já não é sustentável. O progresso deve também incluir uma dimensão social que reduza as desigualdades e aumente a prosperidade de todos os europeus – caso contrário, os nossos sistemas de proteção social podem não resistir.
Compreendo que muitos europeus estejam preocupados com a evolução atual. Mas, se olharmos para a história económica, percebemos que, muitas vezes, é nos momentos de medo que surgem as verdadeiras mudanças. No auge de um ciclo económico, queremos apenas que tudo continue igual. Mas são os momentos difíceis – como a crise financeira – que geram alterações com potencial para nos beneficiar a longo prazo. Atualmente temos um sistema bancário sólido, que tem provado a sua resiliência várias vezes desde então. Superámos esse desafio, e vamos também ultrapassar os desafios atuais. O futuro da Europa é promissor para os investidores.